O sentimento de pânico que se instalou nos mercados na abertura desta semana como efeito da forte queda dos preços de petróleo, endossando um ambiente já negativo criado pelas preocupações com o impacto do coronavírus na economia, exige mais sangue frio do que nunca do investidor.
Ainda que as incertezas possam ter aumentado e que os preços de ativos de risco estejam despencando, cabe ao investidor ter paciência para não tomar decisões erradas e ampliar eventuais perdas acumuladas na carteira.
“Neste momento, o investidor não deve fazer nada. É uma recomendação de curtíssimo prazo: para hoje e amanhã. Ele deve respirar e entender o que foi que motivou essa queda dos mercados”, diz Marcia Dessen, planejadora financeira com certificação CFP e diretora da Planejar.
Além de avaliar o cenário atual, a planejadora assinala que é fundamental refletir sobre sua decisão de aplicar recursos em ativos de maior risco. “Quando a pessoa entra no mercado com uma expectativa de que uma queda drástica não poderia acontecer, ela entra em pânico quando acontece, e toma decisões ruins. Acaba saindo na hora de comprar”, destaca.
Otávio Vieira, sócio gestor da gestora de patrimônio Taler, concorda que, diante de tamanha incerteza no cenário macroeconômico, qualquer atitude parece precipitada. “O máximo que a pessoa pode fazer é adequar a carteira ao que tinha antes da queda”, diz.
Felipe Dexheimer, coordenador de alocação da XP Investimentos, endossa a avaliação e explica. “O Ibovespa atingiu o maior nível do ano em 24 de janeiro. De lá para cá, caiu aproximadamente 25%. Em uma carteira moderada, com 80% do patrimônio em CDI e 20% em Bolsa, o investidor teria hoje cerca de 16% em renda variável”, observa, ressaltando a necessidade de ajuste do portfólio para retomar a fatia de 20% em ações.
A recomendação é de recomposição da carteira, mas de forma gradual. “Defendemos que o investidor não precisa ter pressa”, assinala Dexheimer.
Orientação para o iniciante
Para o investidor sem nenhuma exposição em Bolsa, a queda dos ativos também pode ser encarada como oportunidade para iniciar uma posição em risco, também gradualmente. E é fundamental ter em mente que o tempo para uma recuperação do patrimônio em caso de queda tende ser maior do que o de perda.
“Entrar aos poucos é uma boa estratégia. Tem que comprar um pouco mais na hora que cai o mercado para recompor a posição. Peguemos como exemplo alguém que aplicou R$ 10 mil em Bolsa. Supondo uma queda de 30%, a pessoa ficaria com R$ 7 mil. Se a Bolsa se recuperasse meses depois e subisse 30%, o investidor não iria recompor sua perda, estaria com R$ 9.100. A Bolsa teria que subir 42% para compensar uma queda de 30% quando a pessoa tinha R$ 10 mil”, explica Marcia.
Da mesma forma como na Taler, a TAG Investimentos atende clientes de maior patrimônio, no caso a partir de R$ 10 milhões. Por ora, o sócio Dan Kawa diz que os clientes estão relativamente tranquilos, ainda que desconfortáveis com a queda dos mercados.
“Não vimos nenhum movimento de pânico, pelo contrário. Alguns investidores com dinheiro em caixa estão aproveitando para voltar a alocar em renda variável frente a esse novo cenário de juros baixos no Brasil.”
Paciência, parcimônia e prudência
A TAG tem dividido seus clientes em três perfis de risco. O primeiro com uma posição em renda variável ideal para o médio e o longo prazo. Nesse caso, a recomendação tem sido de paciência, sem indicação de aumento ou redução do percentual investido.
“Entendemos que o curto prazo vai seguir volátil, que os riscos aumentaram, mas muita coisa ruim já foi para o preço. É preciso paciência para ter maior visibilidade do cenário em algumas semanas ou alguns meses”, observa Kawa.
O segundo grupo é formado por clientes com alocação em renda variável que desejam ampliar a fatia em risco. E a orientação é de parcimônia, de uma construção gradual da parcela dedicada à Bolsa. “Ninguém nunca vai saber qual é o fundo do poço.”
Por último, estão clientes pouco presentes na gestora, que têm uma alocação muito maior do que a desejada em renda variável, com necessidade de adequar o portfólio independentemente de preço. “Recomendamos prudência a esse investidor. Ele não precisa zerar, mas deve ter alguma estratégia de redução de alocação, dado que descobriu que tinha uma posição muito maior do que deveria ou aguentaria ter.”
Atualmente, clientes de perfil moderado detêm, em média, de 20% a 30% em ações na TAG, que começa a analisar outras classes de ativos na qual tinham uma posição muito pequena ou até mesmo inexistente, caso da de fundos imobiliários.
De olho na queda dos preços das cotas, a gestora está iniciando uma alocação em FIIs, por meio de um fundo de fundos.
Na Taler, Vieira conta que, em janeiro, a gestora recomendou a redução da alocação em Bolsa, de 20% para 15% em ações. Hoje, a exposição média em renda variável está em 35% e a em renda fixa, em 65%.
Fonte: Infomoney