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Como não errar em aplicações conservadoras

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Na última quarta-feira, conforme previsto pelo mercado, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central reduziu a taxa de juros do Brasil, a Selic, de 6,0% para 5,5% ao ano, o menor patamar da história no país. Para além, no comunicado pós-decisão, o colegiado deixou a porta aberta para novos cortes.

Com as próximas reuniões marcadas para 30 de outubro e 11 de dezembro deste ano, é possível vermos a Selic abaixo de 5% ainda em 2019, algo inimaginável nos últimos anos. Vale adicionar que em meados de 2016 essa mesma taxa de juros estava acima de 14% ao ano, ou seja, houve um corte de cerca de 9 pontos percentuais em apenas três anos.

Alguns questionam a razão de chegarmos em tal magnitude e os dois principais aspectos são a estabilidade da inflação e economia fraca. Dessa forma, o Banco Central deixa claro quais movimentos estão no radar do comitê, além das reformas e do cenário externo.

Com a decisão, a rentabilidade das aplicações financeiras conservadoras também mudou. A poupança, por exemplo, que rende 70% da taxa Selic passa a trazer aos poupadores 3,85% de retorno ao ano. Os demais investimentos indexados ao CDI passam a ter rentabilidade de 5,4% ao ano quando estão vinculados a 100% do CDI.

No caso dos títulos do Tesouro Direto, a rentabilidade do Tesouro Selic varia conforme a taxa de juros e, portanto, passa a ter o mesmo número desta. Importante considerar que o Tesouro Selic apresenta rentabilidade diária aos seus investidores, assim, rendendo menos no dia a dia do que anteriormente.

Por outro lado, para quem busca deixar seus recursos alocados para reserva de emergência, não há como fugir desta aplicação ou de CDBs de liquidez diária de bancos médios e pequenos que apresentem retorno próximo de 100% do CDI, ou de fundos de investimento conservadores com taxas de administração baixas. Abaixo 0,5% seria o mais recomendável.

Já no Tesouro Prefixado e no Tesouro IPCA, as dinâmicas são distintas do comentado anteriormente e, portanto, ainda podem ser boas alternativas, a depender dos objetivos de cada investidor. Para quem olha o curto prazo, o Tesouro Prefixado com vencimento em janeiro de 2022 apresenta neste início de semana rentabilidade de 5,6% para quem leva-lo até o seu vencimento. Pode ser uma boa opção se levar em consideração as perspectivas de novos cortes na Selic. Pensando no longo prazo, ou seja, em algo para 15 ou 20 anos, o Tesouro IPCA traz retornos, neste momento, de 3,5% ao ano somada a inflação. Esse é mais indicado para aqueles que visam aposentadoria, por exemplo. Alguns podem questionar que essa taxa já esteve em 8% ao ano mais o IPCA do período. No entanto, isso ocorreu em períodos de risco mais elevado no país, especialmente se comparado ao momento atual.

Outra discussão interessante em tempos de juros baixos é sobre as taxas de administração cobradas por alguns fundos de investimento conservadores. Em cima desse tema, e buscando levar ao conhecimento do brasileiro em geral, influenciadores digitais iniciaram na última semana a campanha #éjusto, mostrando que alguns fundos chegam a cobrar tarifas próximas a nova Selic, o que acaba por desidratar grande parte do retorno do investidor.

Sempre antes de investir há a necessidade de conhecer estas taxas, pois elas impactam na rentabilidade final. Para isso, sugiro seguir minha recomendação acima de que investimentos conservadores com taxas acima do patamar mencionado não devem receber seus recursos, quem dirá alguns com taxas acima de 3% ou 4% ao ano. Isso faz com que fundos apresentem em uma janela de curto prazo retorno de 30% a 60% do CDI ao investidor, o que não é nada satisfatório.

Mais um ponto de atenção deve estar sobre as taxas cobradas por fundos de previdência. Aos que acompanham minhas análises com frequência posso parecer redundante neste ponto, mas é importante reforçar que isso faz diferença aos investidores que ainda desconhecem tais impactos.

Em dados extraídos do site da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), órgão regulador no país, um fundo de previdência que cobra 3,7% ao ano de taxa, por exemplo, trouxe um retorno de cerca de 52% do CDI nos últimos 36 meses (três anos), o que pode ser considerado um número bem ruim. Já aquele que cobrou 0,5% no mesmo período apresentou rentabilidade de mais de 95% do CDI. Para ficar mais claro, quem investiu R$ 10 mil em ambos os fundos, teria de forma bruta hoje R$ 11.365 ou R$ 12.494, respectivamente, desconsiderando a possibilidade de outras cobranças adicionais e impostos após resgate. Por outra conta, veja que aquele que onera mais o investidor teria apresentado retorno de 13,6% no período, enquanto o outro, 24,9%.

Portanto, ressalto que é necessário ficar atento às cobranças, seja elas quais forem, pois o sucesso do retorno da sua aplicação conservadora depende dos detalhes contidos nas entrelinhas.

 

 

“por Roberto Indech”
Gazeta do Povo.